por Mateus G. Cesimbra
O nascimento é um evento social,
comemorado e festejado na maioria dos casos. Nascer é o ponta pé inicial de uma
vida baseada nos moldes culturais da nossa civilização. A partir daí o indivíduo
vai crescendo e se encaixando na sociedade que o cerca: aniversários, estudo, casamento,
emprego, família... tudo é vivido e encarado naturalmente, até que surge o
grande tabu dos mortais, a morte.
Assim como nascer, estudar,
trabalhar e formar uma família, morrer também é um item pontual no manual de
instruções do ser humano, entretanto, sabe-se lá o porquê, a programação para
este parâmetro parece ter sido desenvolvido com um erro crônico. Não sabemos
lidar com a morte, nem a dos outros, nem a nossa.
Obviamente, é compreensível que a
perda de alguém próximo mexa com as emoções. Saber que aquela pessoa que até
então estava ali acessível não estará mais, pode parecer assustador. Por outro
lado, a única certeza que a vida dá é a morte. Somos criados sobre a influência
de diversos aspectos sociais que devem nortear a vida, porém, assim como tantos
outros temas, a morte é negligenciada e posicionada como um grande tabu.
Esse tabu precisa ser rompido.
Não estou dizendo que a tristeza e as saudades devem ser negadas, mas sim que o
luto não pode ser o possuidor do resto das nossas vidas. Compreender que a
morte de alguém é apenas uma etapa que todos nós enfrentaremos, e que apesar da
ausência física, a presença na memória daqueles que fizeram parte da vida de
quem se foi o manterá vivo de certa forma, facilita na cura da perda. Tudo é
questão de assimilar, desconstruir paradigmas e encarar o ciclo da vida como um
todo, independente de religião ou filosofia.
O outro lado da moeda trata da
morte que bate em nossa porta. Uma coisa é o luto em relação a quem amamos e
parti, outra coisa é compreender que nós também partiremos. Quem está preparado
para morrer?
A maior parte das pessoas evitam
esse pensamento, pois aprendemos que falar em morte é errado. Ora, não
necessariamente quem toca neste assunto está pretendendo morrer logo,
entretanto, compreende que é inevitável fugir dela. A gente se planeja para
estudar, ter um bom emprego, tirar férias e assim por diante, mas evitamos
planejar o encerramento do ciclo. Uma morte planejada, não no sentido de marcar
hora e data de morrer, mas sim de colocar as coisas no seu devido lugar,
facilita a vida de quem fica por aqui. Além do mais, muitas pessoas se vão e os
seus desejos de partida não são lembrados, isso porque nunca foram expressos,
como por exemplo, a doação de órgãos ou a divisão de bens.
Lembram da Dercy Gonçalves? Ela
planejou a sua morte, mandou construir sua sepultura lá em Santa Maria
Madalena-RJ, sua cidade natal, e ainda assim viveu centenariamente. O fato de
você ter comprado o seu lote no cemitério não significa intenção de morar lá
tão cedo, talvez por isso a Dercy tenha vivido tanto, pois tenho a impressão de
que quanto mais este assunto é bem resolvido em nossa existência, mais ela se
estende.
A morte não é ir na padaria
comprar pão, mas também não é o fim do mundo. Enquanto alguns partem e a gente
fica, necessariamente é preciso seguir o barco. Podemos aprender com o luto,
não somente em relação as nossas emoções, mas também em relação a chegada da
nossa hora, fazendo com que ela se torne menos dolorosa para os que aqui
ficarem, pois isso também é uma prova de amor e cuidado. Desmistificar o
assunto é um ato de sabedoria e sobriedade, não há porque fugir dele. Morrer
será tão natural quanto viver!
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